O que é o Consumismo Estrutural

Através do conceito da Decoração Subversiva, é possível identificar a presença de um consumismo estrutural que permeia nosso estilo de vida atual, muitas vezes imperceptível quando não estamos conscientes de sua existência.

Este consumismo está presente em todas as áreas de nossa vida, mas neste contexto, utilizamos a decoração como uma ferramenta de empoderamento e libertação dessa influência negativa, que tem prejudicado o nosso estado emocional e consequentemente o meio ambiente.

É POSSÍVEL DECORAR SEM GASTAR?

Meu nome é Erika Karpuk, sou designer de interiores e autora do conceito da Decoração Subversiva, desenvolvido a partir de um manifesto escrito em 2021. Com mais de 26 anos de experiência em arquitetura e design de interiores, dediquei 10 anos ao trabalho nas redes sociais, sempre buscando inspirar as pessoas a viverem em espaços mais belos, organizados e harmoniosos.

Através do conceito da Decoração Subversiva, identifiquei a presença de um consumismo estrutural que faz parte do nosso estilo de vida atual, mas muitas vezes passa despercebido pela falta de consciência. Esse consumismo está presente em vários aspectos de nossa vida diária, como o medo de colocarmos as mãos na massa, a insegurança em relação à nossa própria capacidade de criar e construir, a necessidade de aprovação e o medo da crítica, a sensação de não sermos suficientemente criativos ou habilidosos para realizar nossas ideias e construir a nossa própria vida.

O consumismo estrutural limita nossas ações naturais e nos impede de tomar decisões próprias quando se trata de criar um lar mais bonito, e inconscientemente, vinculamos a ideia de uma casa confortável, bonita e acolhedora à necessidade de consumir coisas novas e modernas.

MAS O QUE É CONSUMISMO ESTRUTURAL?

 

O consumismo, em sua definição técnica, é uma patologia decorrente do consumo excessivo. Embora possamos pensar em casos extremos de acumulação de objetos em programas de TV sobre acumuladores, esse tipo de programa mostra apenas um nível extremo de consumismo, sem abordar a raiz do problema.

Desde o início do século XX, com os avanços industriais, a produção de bens e as práticas de consumo aumentaram exponencialmente. O mundo ficou tão focado em produzir, vender e consumir coisas que é difícil imaginar uma estrutura econômica diferente. O consumismo estrutural é alimentado pela ideia de que adquirir e acumular bens materiais é essencial para nossa existência e que somos em parte definidos pelo que possuímos. Jeremy Rifkin, presidente da Foundation on Economic Trends em Washington D.C., afirmou:

Somos ensinados que adquirir e acumular bens materiais faz parte integral de nossa estada na Terra e que somos, pelo menos em parte, um reflexo do que temos. Nossa própria noção do modo como o mundo funciona baseia-se, em grande extensão, no que passamos a considerar como a necessidade primordial de trocar bens uns com os outros e de nos tornarmos membros da sociedade que possuem posses (RIFKIN, 2001, p. 3).

Outro fator importante para o estabelecimento do consumismo estrutural foi a busca por novas formas de impulsionar a economia em crise após a Segunda Guerra Mundial. Em meados de 1955, Victor Lebow, um economista e analista de marketing especializado em varejo, escreveu um artigo e apresentou uma teoria que foi absorvida pelo sistema capitalista e integrada ao estilo de vida da sociedade atual. Lebow afirmou:

Nossa economia extremamente produtiva exige que façamos do consumo nosso modo de vida, que convertamos a compra e uso de bens em rituais, que busquemos as satisfações do ego no consumo. […] Precisamos que as coisas sejam consumidas, queimadas, remendadas, desgastadas, substituídas e descartadas em ritmo cada vez maior (LEBOW, 1955, p.07).

Dessa forma, a obsolescência programada e as campanhas de marketing foram adotadas como soluções para a economia pós-guerra em crise, tanto por governos quanto por indústrias. Atualmente, qualquer item de consumo é projetado considerando o fim de sua vida útil, seja devido ao desgaste ou à necessidade de atualização tecnológica, o que nos obriga a comprar constantemente modelos mais recentes.

Portanto, o consumismo estrutural não é uma teoria da conspiração, mas uma realidade que afeta nossas ações e nos faz desvalorizar nossas próprias conquistas. Esse tipo de consumismo utiliza fragilidades e vulnerabilidades humanas, como medo, insegurança, tristeza, solidão e falta de valor próprio, para nos apresentar soluções ideais projetadas para suprir nossas necessidades emocionais, como verdadeiros heróis da nossa satisfação. As campanhas de marketing são especialmente desenvolvidas para atingir nosso lado emocional e nos convencer a buscar fora o que não encontramos dentro de nós mesmos. Além disso, o marketing se infiltrou em todos os aspectos visíveis de nossas vidas, especialmente na internet, ampliando ainda mais a influência do consumismo.

Ao adotarmos os conceitos da Decoração Subversiva, rompemos com os padrões impostos pelo consumismo estrutural. Amar a casa como ela é, valorizar e cuidar do que já possuímos, em vez de pensar em comprar mais, torna-se um ato revolucionário e consciente.

A indústria e o consumismo estrutural não desejam que sejamos pessoas satisfeitas e felizes com o que temos, pois a tristeza, solidão, medo, angústia e insegurança são altamente lucrativos. Em 2020, o setor de casa, decoração e utilidades domésticas movimentou R$87,7 bilhões, sendo que mais de 70% dessas compras foram realizadas por mulheres. Curiosamente, no primeiro trimestre de 2022, houve um aumento de 40% nos casos de depressão, sendo que a maioria dos afetados são mulheres.

Esses números não podem ser vistos isoladamente. Quanto mais infelizes nos sentimos, mais fácil se torna controlar nossas escolhas. Portanto, não se engane, a felicidade não está fora de você.

A FELICIDADE ESTÁ NA LIBERDADE DE SER QUEM VOCÊ É, E DE FAZER SUAS PRÓPRIAS ESCOLHAS.

COMO O CONSUMISMO ESTRUTURAL ACONTECE NA DECORAÇÃO?

 

  1. Adquirir um novo item para a casa ou decoração é um ponto de partida comum.
  2. Com o uso contínuo, é natural que ocorra desgaste ao longo do tempo.
  3. Em vez de aprender a consertar, geralmente optamos pelo descarte, pois a substituição e atualização contínuas são incentivadas.
  4. Logo, somos expostos a tendências e modismos por meio de diversas mídias, como as casas de amigos, influenciadores ou programas de TV.
  5. Começamos a examinar nosso ambiente e percebemos um sentimento de desconforto, embora muitas camadas de ilusão mascarem a realidade.
  6. Passamos a buscar falhas nos móveis, objetos e revestimentos como fonte do problema.
  7. Concluímos que a decoração é o fator culpado e que ao comprar, pintar ou trocar, nossa insatisfação desaparecerá. E assim o ciclo recomeça.

O desconforto está relacionado às nossas percepções sensoriais e não a algo material. Quando tentamos justificar nosso mal-estar por meio de objetos materiais ou buscar satisfação neles, é sinal de que algo está errado com nossas percepções.

É importante ressaltar que estamos discutindo essas questões dentro de um contexto em que já possuímos um teto, paredes e piso, o que já é um grande privilégio em um mundo com muitas pessoas em situações de vulnerabilidade e pobreza extrema. Considerando que você tem acesso à internet e a dispositivos para usá-la, é provável que esse seja o seu caso. Por isso, convido você a refletir sobre este texto, baseado em estudos e experiências pessoais e profissionais, e realizar uma autoanálise, observando seus pensamentos e como eles funcionam nos momentos em que busca transformação.

UM EXERCÍCIO FÁCIL PARA COMEÇAR JÁ

 

Entre em um ambiente da sua casa com o qual você não se identifica muito ou que causa desconforto por algum motivo.

Observe atentamente os detalhes, feche os olhos e sinta o ambiente por meio dos sentidos (cheiros, sons, temperatura).

Abra os olhos e observe novamente, identificando o que não está satisfatório e precisa de mudanças.

Geralmente, quando identificamos um problema, buscamos uma solução rápida e a primeira coisa que nos vem à mente é: “O que devo comprar para melhorar este lugar?” No entanto, desta vez, proponho que faça uma pergunta diferente: “O que posso reformar, consertar ou reutilizar com minhas próprias mãos para melhorar este lugar?”

Dessa forma, você estará ativando seu Poder de Ação e Criatividade, percebendo como sua percepção muda quando você se abre para encontrar soluções sem depender do que vem de fora.

Quem sou eu

Erika Karpuk

Sou uma profissional com 26 anos de experiência na área de arquitetura e design de interiores. Durante minha trajetória, decidi desafiar os padrões elitistas que aprendi nas escolas tradicionais de arquitetura e design, e acredito firmemente que morar bem é um direito fundamental para todos.

Atualmente, meu objetivo é desconstruir a ordem estabelecida pelo consumismo estrutural, demonstrando que é possível criar um ambiente acolhedor e bonito, utilizando os recursos existentes, sem a necessidade de adquirir constantemente objetos novos e modernos. Afinal, no fim das contas, “NINGUÉM PRECISA DE PAREDES PERFEITAS PARA SER FELIZ”, e amar e valorizar nossa casa como ela é, em meio a essa era de consumo e ilusão, é um ato de resistência e subversão.

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