Obra Limpa Dekor

1ª Parte – Conceito

Menos desperdício, mais consciência na decoração.

A Obra Limpa Dekor é um conceito que visa conscientizar consumidores e profissionais da arquitetura e do design de interiores sobre a importância de entender integralmente os itens utilizados na decoração de um ambiente. Isso significa considerar desde o processo de extração dos recursos naturais até a escolha de materiais que minimizem impactos ambientais, promovendo a redução de consumo em todas as etapas de um projeto.

O conceito se baseia em três pilares principais:

Tudo o que consumimos no design de interiores, desde um simples vaso sobre a mesa até um grande revestimento, é produzido a partir da extração de recursos naturais. Você já parou para pensar nisso?

A Obra Limpa Dekor busca não apenas minimizar impactos ambientais, mas também estimular um olhar mais crítico sobre o consumo. A abordagem vai além da sustentabilidade convencional, propondo uma mudança na maneira como percebemos e utilizamos os recursos em projetos de interiores. Trata-se de um modelo que valoriza a longevidade dos materiais e incentiva um design que respeita o meio ambiente sem abrir mão da estética e funcionalidade.

O IMPACTO INVISÍVEL DO CONSUMO

Você sabia que um vaso de vidro é produzido a partir da mistura de vários minerais retirados da natureza? Areia, barrilha, dolomita, calcário e feldspato são aquecidos a altíssimas temperaturas e depois resfriados. Além da matéria-prima, esse processo consome milhões de litros de água limpa e libera toneladas de CO2 na atmosfera.

Agora pense: quantas vezes você já descartou um objeto de vidro sem considerar o impacto dessa ação?

Ao descartar um simples vidro de conserva no lixo comum, estamos:

Desperdiçando milhões de litros de água potável

Na sua manufatura, o gasto de água é de 0.6 litros para a produção de 1 kg de vidro.

Desconsiderando os danos ambientais causados pela extração mineral

Mineradoras impactam ecossistemas, contribuindo na degradação sócio ambiental

Ignorando a poluição atmosférica gerada pelo processo de fabricação

A produção de 1 kg de vidro gera, em média, 0,6 a 1,2 kg de CO₂

MAS E A RECICLAGEM?

A reciclagem é essencial, mas não é suficiente. Embora o reaproveitamento de vidro possa reduzir até 300 kg de CO2 por tonelada reciclada, os índices de reciclagem ainda são baixos. No Brasil, apenas 8,3% dos resíduos sólidos urbanos (RSU) foram reciclados em 2023, enquanto o potencial de reciclagem estimado é de 33,6%.

Segundo o Panorama 2024 (O Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil é um estudo anual produzido pela ABRELPE – Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais, que apresenta dados sobre a geração, destinação e gestão de resíduos no país), cerca de 69,3 milhões de toneladas de resíduos sólidos foram descartadas em aterros no Brasil no último ano, sendo que 41,5% desse total teve destinação inadequada. Além disso, apenas 32% dos municípios brasileiros possuem programas de coleta seletiva.

Isso significa que grande parte dos materiais que poderiam ser reciclados ainda são destinados a lixões e aterros.

CONSTRUÇÃO CIVIL: O GRANDE VILÃO?

A construção civil é uma das maiores geradoras de resíduos no mundo. Segundo a ABREMA (Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente), em 2023 foram geradas 44 milhões de toneladas de RCD no Brasil.

No Brasil, produzimos 121 mil toneladas de entulho por dia, sendo que a região Sudeste lidera com 63 mil toneladas diárias, o que significa 51% do total nacional. O mais alarmante? Cerca de 70% desse total vem de pequenas reformas—trocar um piso, ampliar um cômodo, substituir um forro ou abrir um rasgo na parede para instalar uma tomada.

O design de interiores, quando realizado sem consciência ecológica, também contribui para esse problema. No total, geramos 85 mil toneladas de lixo por dia apenas pelo descarte de objetos e materiais de decoração.

UMA NOVA FORMA DE PENSAR O DESIGN DE INTERIORES

O modelo econômico utilizado no mundo atual é linear, ou seja, extrai, produz, consome e descarta. Precisamos migrar para um sistema Cradle to Cradle (do berço ao berço), que considera a reciclagem contínua dos materiais, garantindo que nada se transforme em resíduo permanente.

O conceito Cradle to Cradle, desenvolvido pelos especialistas William McDonough e Michael Braungart, propõe um novo olhar sobre o ciclo de vida dos produtos. Em vez de pensar em descarte, devemos projetar materiais e espaços que possam ser continuamente reaproveitados, mantendo os recursos em circulação.

A Obra Limpa Dekor nasce dessa necessidade de mudança. Não se trata de deixar de decorar ou reformar, mas de fazê-lo com consciência.

Se adotarmos uma mentalidade sustentável, a redução do desperdício será uma consequência natural. Porque, no final das contas, o que foi extraído da natureza não volta mais para ela—mas nós podemos escolher um caminho diferente.

MENOS DESPERDÍCIO, MAIS SIGNIFICADO

A partir de todas essas informações e da minha trajetória profissional, desenvolvi um método simples, porém eficiente, para aplicar os conceitos da Obra Limpa Dekor na reforma de interiores e na decoração.
Sabemos que cada casa abriga milhares de itens—não apenas em sua estrutura arquitetônica, como paredes, pisos, tetos e portas, mas também em móveis, eletrodomésticos, utensílios, roupas e tantos outros objetos do dia a dia.

É essencial termos consciência de que CADA ITEM UTILIZADO NO DESIGN PROVÉM DOS RECURSOS NATURAIS, tais como, madeira, granitos e mármores, metais, tecidos, cerâmicas, plástico, papel, espumas, borracha, tintas, e muitos outros…

Diante desse cenário, o método Obra Limpa Dekor, foi estruturado em quatro etapas fundamentais:

  1. ANÁLISE E PLANEJAMENTO – Antes de qualquer mudança, é essencial analisar as necessidades do espaço e planejar cada etapa da obra ou reforma. Esse cuidado evita desperdícios e permite decisões mais sustentáveis.
  1. ESCOLHA DE MATERIAIS – Optar por materiais recicláveis, reutilizáveis ou de baixo impacto ambiental é crucial para reduzir a pegada ecológica do projeto.
  1. GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS – Durante a execução do projeto, a correta separação e destinação dos resíduos garantem que eles sejam reciclados ou reaproveitados sempre que possível.
  1. FINALIZAÇÃO CONSCIENTE – Na etapa final, o foco está no reaproveitamento de itens, na redução de descartes desnecessários e no incentivo ao consumo consciente, resultando em um design mais responsável e alinhado à sustentabilidade.

Nos próximos tópicos, vou aprofundar cada uma dessas etapas e mostrar como aplicá-las na prática.

GERENCIANDO RESÍDUOS NA DECORAÇÃO E REFORMAS

INTRODUÇÃO AO CONCEITO

Tudo começa no ano de 1981, com a criação do CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente, um órgão consultivo e deliberativo do Sistema Nacional do Meio Ambiente-SISNAMA, instituído pela Lei 6.938/81. Esse Conselho tem a função de estudar, assessorar e propor ao Governo as direções que as políticas governamentais devem tomar para a exploração e preservação do meio ambiente e dos recursos naturais. Dentro dessas propostas também cria normas compatíveis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado. Porém, apenas em 2002 é criada a RESOLUÇÃO 307, que impacta diretamente a área da Construção Civil.

VAMOS NOS FAMILIARIZAR? Construção civil é o termo que engloba a confecção de obras como casas, edifícios, pontes, barragens, fundações de máquinas, estradas, aeroportos e outras infraestruturas, onde participam engenheiros civis e arquitetura em colaboração com técnicos de “outras disciplinas” (leia-se “outras disciplinas” o design de interiores). Construção na engenharia e na arquitetura, é a execução do projeto previamente elaborado. Reforma é o mais utilizado quando se trata de fazer alguma ampliação, inovação, ou restauração, ou apenas uma pintura, ou a troca de um piso cerâmico de um imóvel, seja comercial, industrial ou residencial. – texto adaptado do Wikipédia
O que é a RESOLUÇÃO 307?

A 307 estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil.
Essa resolução virou um guia para gerir os Resíduos Gerados da Construção Civil, conhecidos como RCDs- Resíduos de Construção e Demolição e os separou em 4 classes.

CLASSE A

Resíduos que podem ser Reciclados ou Reutilizados para retornarem para a construção civil. Ou seja, é o entulho que, se separado adequadamente tem valor comercial ,por que pode ser reciclado, revendido e utilizado novamente.
Destino: podem ser aproveitados na própria obra ou encaminhados para as usinas de reciclagem.

QUAIS SÃO ELES?

• concreto
• argamassa
• revestimentos
• solos (terraplanagem)
• tijolos
• telhas
• cerâmicas
• louças sanitárias

IMPORTANTE SABER!

Resíduos da Classe A tem alto valor comercial, já que os materiais podem ser triturados e transformados em insumos que retornam à Construção Civil, tais como:

• Agregados Reciclados de Concreto;
• Agregados Reciclados Cerâmicos;
• Agregados Reciclados Mistos.

Mas a reciclagem de resíduos da construção e demolição (RCD) ainda engatinha no Brasil, esbarrando na falta de uma legislação eficaz e no pouco incentivo do governo.

São Paulo é o maior gerador de Resíduos da Construção e Demolição (RCD) do Brasil, com a região Sudeste respondendo por 51% do total nacional. Em 2023, o Brasil gerou cerca de 44 milhões de toneladas de RCD. Apesar desse volume expressivo, a reciclagem desses materiais ainda enfrenta desafios estruturais e burocráticos.

O estado de São Paulo possui aproximadamente 200 usinas de reciclagem de resíduos da construção, porém 48,11% das cidades paulistas não possuem áreas adequadas para o recebimento de resíduos da construção, resultando em um elevado número de aterros clandestinos.

CLASSE B

Resíduos que podem ser Reciclados e utilizados em outros setores.
Destino: Esses resíduos devem ser separados de forma adequada e individualmente, para que sejam encaminhados a empresas ou cooperativas que façam sua reciclagem.

QUAIS SÃO ELES?

• papel/ papelão
• metais
• plástico
• vidro
• madeira
• embalagens vazias de tintas imobiliárias
• gesso

A CLASSE B REPRESENTA O PRINCIPAL DESCARTE NA DECORAÇÃO E REFORMA

O RCD da Classe B representa uma parcela significativa das reformas de interiores – um dos nossos principais focos. Isso porque os materiais dessa categoria são os mais substituídos e descartados, muitas vezes sem qualquer preocupação ambiental. Para garantir uma destinação correta, a separação precisa ser feita de forma individual, especialmente quando há mistura com gesso e insumos da Classe A.

Agora, um questionamento: já parou para observar o conteúdo de uma caçamba estacionada na rua? Reparou se os materiais estão devidamente separados e acondicionados?

Não preciso ouvir sua resposta, porque já sabemos: a separação de resíduos praticamente não existe! Basta olhar para as caçambas que cruzamos todos os dias para constatar que o descarte é feito de maneira indiscriminada.

E o que isso significa? Que boa parte desse material perde seu valor comercial e, automaticamente, é tratado como REJEITO. Um desperdício que poderia ser evitado com práticas simples, mas que, infelizmente, ainda não fazem parte da realidade da maioria das obras.

A PROBLEMÁTICA DO GESSO

A produção de gesso ocorre a partir do aquecimento da gipsita, um material encontrado em todo o mundo e abundante na natureza. Amplamente utilizado na construção civil e principalmente dentro das nossas residências, o gesso faz parte de qualquer projeto de design de interiores e arquitetura, não é mesmo? Mas nos deparamos com um problema muito sério aqui.
A quantidade de gesso usada no Brasil na década de 90 era equivalente a 5 quilos por habitante ao ano. Atualmente a média anual está em 30 quilos por brasileiro.

Desde a sua instalação e aplicação até sua remoção em futuras reformas, o volume do descarte é significativo. Em 2022, o Brasil gerou cerca de 2,45 milhões de toneladas de resíduos de gesso, o que equivale a aproximadamente 6.712 toneladas descartadas por dia!

Quando descartado incorretamente, o gesso pode se dissolver no solo e contaminar o lençol freático. Além disso, em aterros sanitários, a decomposição do material pode gerar sulfeto de hidrogênio, um gás tóxico e de odor desagradável.

Diante desse cenário, é fundamental que o gesso seja separado corretamente em reformas para evitar a contaminação de outros resíduos e permitir sua reciclagem.

É necessário que o gesso seja separado corretamente nas nossas reformas, para que não contamine os demais resíduos. Caso contrário todos serão considerados Classe C.

CLASSE C

Resíduos que não são economicamente viáveis ou sem tecnologias desenvolvidas para sua reciclagem ou recuperação. A resolução no 307 do Conama não traz exemplos de resíduos deste tipo e podemos considerá-los como REJEITOS.

QUAIS SÃO ELES?

🔴 ATENÇÃO, DESIGNERS, ARQUITETOS, ESTUDANTES, CAÇAMBEIROS, PEDREIROS, TRABALHADORES EM GERAL – E VOCÊS TAMBÉM, DONOS DA REFORMA!

⚠️ Se o resíduo está misturado na caçamba, ele é considerado rejeito. Ou seja, LIXO.

Sem separação, sem valor. Sem valor, sem reciclagem. E adivinhe onde tudo isso vai parar? Nos aterros – ou pior, em terrenos baldios e rios.

Separação não é frescura, é a única maneira de dar um destino correto aos resíduos e evitar um impacto ambiental ainda maior.

CLASSE D

São os resíduos considerados perigosos e nocivos à saúde humana e meio ambiente.
Destino: Esses resíduos devem ser encaminhados para áreas de triagem do município (ATTs) ou aterros licenciados para receber esse tipo de produto.

QUAIS SÃO ELES?

• tintas
• solventes (primer, tiner, removedor, etc)
• materiais de Classe A, B ou C contaminados
• óleos
• amianto (telhas e caixas d’água)

POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS

Lei 12.305/10

Em 2010 criou-se a Lei 12.305/10, denominada Política Nacional de Resíduos Sólidos. Essa Lei criou a obrigatoriedade de todos os municípios brasileiros desenvolverem seus centros de recolhimento de resíduos.

O que é importante você, designer, arquiteto, empreiteiro ou reformante saber:

1. os resíduos que mais interessam às Usinas de Reciclagem de RCD, pelo valor comercial, são as classes A e B.
2. se o entulho for misturado na caçamba, ele é considerado classe C, ou seja, vira rejeito sem valor comercial nem possibilidade de reciclagem, e sua destinação-infelizmente- é ser encaminhado às montanhas de lixo comum.
3. independente do tamanho da sua obra, pequena ou grande porte, não importa se o seu projeto prevê uma “simples” troca de revestimento, a retirada de uma parede ou a pintura da fachada. Todo o entulho gerado deve ser separado corretamente para um destino final adequado.

OBRA LIMPA DEKOR NA PRÁTICA

Agora que você conhece as classes de resíduos, é hora de colocar em prática! Descubra como aplicar o Método Obra Limpa Dekor na sua reforma e decoração.
Acesse o conteúdo gratuito aqui:

ACESSE A SEGUNDA PARTE DA OBRA LIMPA DEKOR